sexta-feira, 25 de novembro de 2011

GAFISA CANCELA OBRAS DA TENDA


Braço popular da construtora de imóveis tem problemas em pelo menos um terço das construções em andamento.

Adquirida pela Gafisa no fim de 2008, a Tenda era a promessa de avanço rápido nos negócios da companhia, que resolveu se arriscar pela terceira vez na construção de imóveis para o segmento de baixa renda. Três anos depois, a empresa amarga os maus resultados do braço popular e vai desistir de obras em andamento para diminuir os prejuízos.

Hoje, um terço das obras da Tenda apresenta problemas para a execução dos projetos. Das 30 mil unidades em construção, 11 mil têm a situação complicada, seja por problemas com atrasos nas obras, processos burocráticos de registro e com a Caixa Econômica Federal ou na contratação de mão de obra.

Na tentativa de diminuir os problemas da empresa, o diretor executivo da Tenda, Rodrigo Osmo, afirmou que algumas obras em fase inicial estão sendo reavaliadas e serão canceladas. "Estamos em um momento de freio para arrumação. Empreendimentos com até 20% de andamento nas obras serão revistos", afirmou.

Apesar de inibir custos futuros nas obras, a iniciativa da companhia compromete parte importante dos negócios: a credibilidade dos consumidores. Como tentativa de proteger a imagem da empresa, Osmo afirmou que os compradores dos imóveis que eventualmente tenham a obra cancelada serão integralmente ressarcidos.

"Como a Tenda tem atuação ampla, também podemos sugerir outros empreendimentos similares", disse. O executivo disse não saber o montante a ser desembolsado com a operação, mas garantiu que 80% dos problemas serão resolvidos até o primeiro semestre de 2012.

O anúncio da Gafisa não foi recebido com surpresa pelo mercado. Desde o início do ano, a companhia já dava sinais de que gostaria de diminuir a participação da Tenda nos negócios.

"As margens da Tenda são muito apertadas e o volume de vendas não correspondeu às expectativas da Gafisa", diz Bruno Lembi, analista de mercado da M2 Investimentos. O volume de lançamentos da Tenda teve recuo de 53% até setembro, na comparação com o mesmo período de 2010.

Obras atrasadas

O dirigente da Tenda afirmou que o legado da empresa é herança da administração da companhia antes da aquisição por parte da Gafisa. Há obras com mais de dois anos de atraso. Osmo disse que o antigo formato de negócio da construtora prejudicou o ritmo de entregas.

Antes da tomada de rédea da Gafisa, todas as obras eram tocadas pelos chamados franqueados, empreiteiros pequenos que se uniam à Tenda. Por falta de escala e problemas estruturais, algumas dessas pequenas empresas acabaram falindo e a companhia herdou atrasos.

O presidente da Gafisa, Duilio Calciolari, exemplificou a precariedade da execução das obras sob comando das franqueadas com uma obra no Rio de Janeiro.

Segundo ele, a empreiteira entregou os imóveis com torneiras instaladas em paredes onde sequer havia tubulação. Apesar da "tomada de controle" da Tenda, as obras de 8 mil unidades ainda estão sob cuidado de franqueados.

Além do possível cancelamento de obras, a Tenda afirmou que reavaliará sua carteira de clientes e, daqui para frente, somente vai lançar empreendimentos com pelo menos 50% de pré-venda e passíveis de repasse pela Caixa.

A prioridade para 2012 é reduzir o capital empregado na Tenda. "A empresa só voltará a crescer quando for possível fazê-lo de maneira rentável", disse Osmo, que prevê que a retomada pode ocorrer em 2013.

Enquanto a companhia puxa o freio de mão nos lançamentos e tenta arrumar a casa, não deixa de definir estratégias de longo prazo. Um dos planos é a mudança no material básico usado nas obras. A exemplo da construção civil mexicana, que substituiu quase integralmente a alvenaria tradicional por formas de alumínio, a Tenda fará uso do material em suas obras, afirmou Osmo".